sexta-feira, 4 de junho de 2010

OLPCorps: 30 equipes, 100 laptops por equipe e 30 escolas em países africanos



OLPCorps foi uma ambiciosa iniciativa com o objetivo de envolver estudantes universitários ligados a nossa missão de revolucionar os ambientes de aprendizagem para as crianças através de laptops.
Dentre as várias equipes que se inscreveram em 2009, 30 equipes de 3 pessoas foram selecionadas para fazer o deployment de 100 laptops em um país africano durante as ferias do verão americano (junho, julho e agosto) .
Antes de ir para o país escolhido, os estudantes estabeleceram uma parceria com uma ONG local para manter a sustentabilidade do projeto e fizeram uma formação de 10 dias em Rwanda. Essa formação envolveu o uso do laptop e suas ferramentas, desenvolvimento de propostas/projetos, aprendizagem sobre a parte técnica (manutenção e instalação de servidores), familiarização com a proposta de trabalho com projetos e também experimentação em formação de professores e trabalho com alunos em sala de aula.

As fotos dos deployments em cada país podem ser encontradas em http://www.flickr.com/photos/olpcorps/sets/

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Formação de professores de escolas privadas




Em final de abril de 2009, o core team, sob a nossa orientação, realizou uma formação de professores de 6 escolas privadas durante uma semana.
As atividades planejadas pelo core team voltaram a ter um propósito. A primeira delas foi o uso da câmera e do editor de texto para fazer um documento de identidade. Então, os professores aprenderam utilizar essas duas ferramentas e algumas de suas funcionalidades para criar a sua própria identidade.

Alternativa para Formação de professores durante o período letivo

Em 2009 duas novas escolas públicas receberam laptops.  Como isso ocorreu durante o período letivo, o core team organizou com a direção dessas escolas formações para grupos de professores, duas horas diárias dentro do horário de trabalho. Enquanto um grupo fazia a formação, outro suportava as crianças nas salas de aula.
O modelo não é o ideal já que um professor tem que atender duas salas de aula ao mesmo tempo, mas foi a alternativa possível naquele momento e garantiu que os professores tivessem um uso mais freqüente do laptop, sem acarretar custos.
Explico... em Ruanda, considerando que o salário dos professores é muiiito baixo e não 
 há plano de carreira,  há a cultura de incentivar os professores a realizarem formações através de uma ajuda financeira, ou seja, em qualquer formação os professores precisam receber dinheiro para pagar a alimentação e o transporte.
No entanto, isso limita as formações que não estavam previstas no orçamento. Considerando esse fator, nossa única alternativa foi fazer formações dentro do horário de trabalho evitando gastos com transporte e alimentação.


Alguns poréms nessa formação: 
Apesar dos professores da escola expressarem alegria com a novidade(o lpatop), a formação dessa vez foi muito inferior a primeira que o core team havia realizado. Voltou-se a aulas mais tradicionais de laptop e o “ensino” de aspectos técnicos para professores que estavam usando um computador pela primeira vez. 
Voltamos a insistir com o grupo sobre o objetivo das primeiras formações: fazer o professor sentir-se confortável com o laptop e pelo menos com uma atividade. A angústia do formador em ensinar todas as ferramentas e possibilidades da máquina acaba assustando e paralisando o professor iniciante em tecnologia.


Problemas referentes a essas duas escolas:
não havia laptops suficientes para todos os alunos e escola não recebeu uma orientação do ministério da educação sobre uma política de distribuição das máquinas. As escolas não receberam réguas para carregar os laptops na eletricidade e também ao receberam nenhuma verba extra para os gastos com energia, que aumentaram consideravelmente.
Lições:
Dessa experiência piloto acredito que os responsáveis pelo projeto em Ruanda aprenderam  que é necessário uma formação da equipe diretiva e um esclarecimento sobre suas responsabilidades, bem como um plano de implementação e sustentabilidade por parte do governo.
Para nós (OLPC time) em Ruanda, ficou claro a necessidade de uma intervenção com o core team e de uma formação continuada baseada em planejamento, ação e  reflexão.

Retomada com o Core team: novos membros (Vamos construir algo?)

A formação para os novos membros do core team foi iniciada pelos antigos membros. No entanto, entendemos que ela estava mais baseada na ferramenta em si e não em uso mais significativos da mesma (para construir alguma coisa). Então nos últimos encontros nós (eu e o Juliano) decidimos fazer uma intervenção com o grupo para oferecer outro tipo de experiência com o laptop. Pedimos para os formadores escolherem um tópico do currículo nacional de Ruanda, o qual eles tivessem alguma curiosidade ou interesse em aprender mais e desenvolvessem projetos em Etoys. 
Nossa idéia durante as formações é que os formadores sempre construam algo significativo com a ferramenta (para além do ensino da ferramenta)e usem a mesma estratégia durante suas formações dos professores.  Dessa forma, os professsores, por sua vez, terão outra referência para trabalhar com a tecnologia em sala de aula.
 Insistimos na idéia que todos tenham um portfólio dos projetos que eles mesmos construíram em Etoys, Scratch, Turtle Art, etc. 

sábado, 22 de maio de 2010

Venda de laptops para alunos de escolas privadas

Quando se inicia um projeto inovador como "um laptop por aluno" nas escolas públicas, as escolas privadas também sentem a necessidade de atualizar-se e prover os mesmos benefícios e oportunidades aos seus alunos.  No entanto, a nossa organização trabalha diretamente com governos. E estes, por sua vez, priorizam as escolas públicas que estão sob sua responsabilidade.
Em Ruanda as escolas privadas manifestaram interesse e o ministro da educação na época, considerando que esses alunos possuem melhores condições econômicas, achou que vender laptops para os alunos dessas escolas seria um boa estratégia para dar visibilidade ao projeto.  Então o governo começou a vender os laptop diretamente para os pais a um preço de mais ou menos U$200,00.
No entanto, essa ação foi realizada sem um plano de implementação bem definido e articulado com as escolas. A partir daí muitos problemas começaram a surgir:
-    Os professores foram beneficiados com uma formação inicial, mas não receberam laptops. O governo não quis doar laptops para esses professores e eles, por sua vez, argumentavam que não tinham condições financeiras para comprá-los.  As escolas também não tinham como prover laptop para seus professores;
-    Foram feitas campanhas para os pais comprarem laptops, mas muitos pais não tiveram condições de comprar;
-    Alguns pais compraram um laptop para ser compartilhados entre  3 ou 4 filhos em diferentes séries;
-    Os professores começaram a recusar-se a usar o laptop em sala de aula porque além dele não possuir a máquina, nem todos alunos possuíam;
-    Após um tempo os laptop começaram  a ser danificados pelas crianças e não havia um plano claro de manutenção;

 Além de tudo isso, quando abre-se a possibilidade de venda de laptop para pessoa física, laptops das escolas públicas começam a “desaparecer” e eventualmente "aparecer" nas mãos de crianças de escolas privadas. Ou seja, cria-se um “mercado negro” de laptops.  Para evitar esse tipo de prática sugere-se que os laptops não sejam vendidos para pessoa física. 

Dessa experiência pode-se concluir que uma Ação, por melhor que seja a intenção, sem uma estratégia de implementação e sustentabilidade, tende ao fracasso.

Recomeçando em 2009

Após 6  meses no Brasil, em março voltamos à Ruanda, mas dessa vez para ficar por tempo indeterminado!
Dada a decisão do presidente do país de comprar 100 mil laptops, a ONG resolveu enviar um time para suportar o projeto.
Quando chegamos à Ruanda nos deparamos com a expansão do projeto para outras escolas e a venda de laptops para alunos de escolas privadas. O core tem também estava formando novos membros para fazer parte do grupo de formadores. Então começamos a intervenção com os novos membros propondo projetos baseados no currículo escolar, usando Etoys e Scratch. Os antigos membros já se sentiam “formados”! Eles não viam a necessidade de continuar a formação que estávamos propondo.
O mais decepcionante  foi ver que as 3 escolas pilotos estavam abandonadas.  Havia alguma tentativa por parte de pouquíssimos professores em utilizar as máquinas.  Naquele momento ouvimos dos professores que precisavam de mais formação e que não sabiam como integrar o laptop ao currículo.
O core team definitivamente não entendeu que deveriam continuar o suporte às escolas e aos professores em sala de aula.
Um fato interessante nesse período foi deparar-se com o trabalho voluntário na sala de aula de um professor da escola Kagugu para suportar semanalmente o uso do laptop com as crianças da 3a série. O voluntário era um japonês que estava trabalhando em Ruanda  como professor da Universidade KIST. Ele por conta própria tomou conhecimento do projeto e ofereceu-se para judar.
Em seguida, em parceria conosco, esse mesmo professor convidou seus alunos da faculdade de Química e Biologia para juntar-se a ONG no trabalho voluntário em uma das escolas.

Reflexões sobre formação de formadores e professores:

-    Os “alunos-professores ou alunos-formadores” apropriam-se do que VIVENCIAM na formação e não daquilo que ouvem.
-    Nossas propostas serão MODELOS para eles pensarem suas próprias práticas.
-    Junto com a proposta (AÇÃO) é necessário uma REFLEXÃO e uma DISCUSSÃO sobre a mesma.  As pessoas tendem a repetir a forma (seguir os passos)  sem entender a essência (o porquê).
-    Adultos não são crianças: as propostas precisam ser adequadas ao seu interesse.
-    A participação em formações não garante que o professor estará seguro para utilizar laptops em sala de aula.  Para além da formação, o SUPORTE INICIAL EM SALA DE AULA faz-se necessário.
-    A formação tem que ser continuada. Após as tentativas de utilizar em sala de aula é que surgem as maiores dúvidas sobre o laptop e sobre o fazer pedagógico.