domingo, 28 de março de 2010

Primeira formação de professores realizada pelo Core team (ainda em 2008)


Após a formação inicial, o core team com o nosso suporte planejou uma formação de 2 semanas para professores de 3 escolas públicas de Ruanda. O time dividiu-se em 4 grupos para atender cerca de 100 professores. Os professores foram mais ou menos organizados pela faixa-etária a qual trabalhavam e também por áreas de ensino. Os planejamento para cada grupo de professores foi diferenciado. Esses professores estariam tendo o contato com o laptop pela primeira vez. Por isso, o objetivo da formação era que os professores se sentissem confortáveis com ferramentas básicas do laptop: speak, câmera, editor de texto e de imagem, etc. No entanto, nossa dificuldade foi “convencer” o core team de que naquele momento eles não precisavam ensinar “tudo” sobre o laptop e nem entrar em programação mais complexa. Diferente deles mesmos, os professores não eram programadores e não tinham nenhuma experiência com computadores. As exigências que nós fizemos a eles não seriam as mesmas que eles fariam com os professores! Depois de muita discussão em cima do planejamento que o core team tinha feito, do nosso suporte em sala de aula a eles e da reflexão diária ao final de cada sessão de trabalho durante a formação de professores, ficamos muito satisfeitos com os resultados alcançados. As propostas realizadas por cada grupo foram bem interessantes, envolvendo:
- apresentação pessoal dos professores com fotografia e texto no editor de texto; apresentação do colega (semelhante a proposta que eles vivenciaram na formação)
- criação de diálogos usando as fotos deles mesmos;
- produção de texto sobre um tópico a partir de uma foto. EX 1: sair da sala e ir até a rua tirar fotos de elementos da natureza e escrever sobre eles; EX 2: tirar fotos de alguma coisa importante para eles e escrever sobre isso.
- utilização da atividade SPEAK (aquela que fala o que você escreve) para saudar os visitantes que entravam na sala;
- utilização do editor de imagem.
- trabalhos em grupos envolvendo cooperação e colaboração.

- apresentação dos trabalhos e explicação do "como fazer" para o grande grupo.
- professores-alunos criando propostas e assumindo a "aula".
- diversão!












Formação do Core team: Laptop não é brinquedo


Como uma das estratégias para desmistificar a concepção trazida pelo coreteam que o laptop era um brinquedo, desafiamos eles a usar programação logo no início, após a uma rápida exploração da funcionalidades básicas da máquina.
Iniciamos mostramos projetos em Scratch e Etoys criados por crianças brasileiras entre 6 e 9 anos. Nossa idéia era apontar a complexidade de alguns projetos, já que estes envolviam programação.
A proposta ou o tema para basear a exploração/uso do laptop foi pensar “o que é importante para cada um” ou “com o que você se importa”( What do you care about?)
Então pedimos que eles formassem duplas, conversassem sobre a questão e usassem o laptop para criar algo que apresentasse o colega, explicitando o que era importante para ele. Sugerimos no início que fizessem isso usando o editor de texto e a foto do colega. Numa segunda etapa que utilizassem outra atividade do laptop que propiciasse o uso de algum tipo de animação ou programação... Queríamos que realizassem a mesma proposta usando uma outra linguagem para além do texto e da foto.
Diferenciando-se das aulas que o grupo esperava, nessa formação:
- Tínhamos um desafio, mas não foi dito exatamente o que e como fazer!
- Cada um explorou uma ferramenta e uma maneira de fazer! Aprenderam diferentes tecnologias!
- Ensinávamos ou ajudávamos eles a aprender baseado na necessidade do projeto deles e conforme as possibilidades e interesse de cada um.
- A cada final de dia, cada um apresentava e dividia suas aprendizagens com os demais.
Para eles, tópicos importantes eram: Família, como conquistar uma esposa, casamento, prostituição e AIDS, como ganhar dinheiro, etc. Para expressar isso alguns exploraram o Etoys ou o Scratch e outros usaram a câmera e o editor de texto. Nem todos os membros foram a fundo no que diz respeito a complexidade de seus projetos. Mas os projetos de alguns serviram para trazer subsídios para pensar o laptop como uma poderosa ferramenta de criação, programação e autoria.
No momento da reflexão sobre essas propostas, discutimos com o grupo sobre nossa "metodologia" e desafiamos eles a pensar em outras possibilidades de propostas para sala de aula.
Esse foi um trabalho difícil, mas necessário para quebrar as concepções de ensino que o grupo tinha e também sobre as possibilidades do laptop, para além de "um brinquedo". Além disso, começamos a introduzir a idéia de aprendizagem com o laptop e não ensino de informática na escola.

Formação para o Core team: concepções iniciais e expectativas

O grupo (Core team) inicialmente era composto por cerca de 20 pessoas, muitas recém graduadas em Informática ou áreas afins.
Na nossa primeira intervenção queríamos ouví-los sobre suas concepções iniciais à respeito do projeto, do laptop e do seu uso com crianças, bem como as suas expectativas em relação à formação.
As opiniões não foram unânimes. Entre elas vieram à tona concepções iniciais como: o laptop é um brinquedo e as crianças vão usar para jogar. Jogar não é importante! O laptop não é potente e rápido suficiente como um computador de verdade! O XO não é a máquina e não possui os softwares que as crianças encontrarão no mercado de trabalho! As crianças não serão capazes de usar a máquina!
Quanto às expectativas, considerando as falas de muitos, ficou claro que queriam “ser ensinados” sobre todas as atividades e comandos disponíveis no laptop.
Nos posts seguintes irei detalhando as estratégias que utilizamos para discutir e/ou problematizar essas concepções.

sábado, 13 de março de 2010

Início da minha participação em ações em Ruanda - Parte 1

Fomos (eu e o Juliano) enviados à Kigali, capital de Ruanda em julho de 2008.
Sendo essa minha primeira viagem à África, a curiosidade sobre o país, sobre o povo, sobre as escolas era grande. Junto a isso havia o desejo de começar logo o trabalho com os laptops, através de ações de formação de pessoal, já que minha estada seria de apenas 45 dias.
Esperar até as atividades engrenarem foi um pouco frustrante. Além da grande vontade de distribuir laptops para as crianças, o país não possuía naquele momento mais nada: nenhum coordenador, nenhum time, nenhum planejamento, nenhuma idéia de como implantar o projeto e nem consciência das reais possibilidades de ter um laptop para cada criança.
Tivemos algumas reuniões com o ministro e pessoas interessadas na iniciativa, nas quais salientamos a necessidade um COORDENADOR para o projeto no país, bem como a criação de um TIME com o qual trabalharíamos para preparar a formação dos professores.
Após algumas semanas em Ruanda, finalmente fomos informados sobre um centro de formação de professores na área de tecnologia (RITC) em uma universidade chamada KIST (Kigali Institute of Science and Technology). O governo, parceiro desse grupo, decidiu responsabilizá-los pela formação dos professores das escolas que receberiam os laptops e informo-os que deveriam preparar uma formação imediatamente para aproveitar disponibilidade dos educadores em funções do período de férias escolares.
Nossa ação durante duas semanas foi realização da formação desse time (Core Team) e nas semanas seguintes orientação dos mesmos durante a 1a formação de professores em XO laptops.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Como chegamos à Ruanda...

Ruanda é um pequeno país montanhoso da África, localizado entre Uganda Tanzânia, Burundi, e República Democrática do Congo. Apesar do seu tamanho, é bastante populoso, com aproximadamente 10 milhões de habitantes, sendo que 1 milhão vive na capital, Kigali.
Ruanda passou por um genocídio em 1994, o que acarretou a destruição total do país e o massacre de cerca de 800 mil pessoas.
Como parte de sua reconstrução, no ano 2000 foi criado um plano de desenvolvimento chamado Visão 2020, que traz a visão sobre onde os Ruandeses querem estar e em que tipo de sociedade eles querem tornar-se. Nesse plano, o alvo é levantar o padrão de vida da população para vencer a fome e a pobreza e alavancar a economia. Através de análises sobre as possibilidades do país esse documento aponta que, em função da escassez de recursos naturais e de não possuir saída para o mar, a área de serviços seria a única alternativa viável: serviços em turismo e TIC’s.
Para tanto a capacitação da população tornou-se algo urgente.
Mas essa capacitação não está sendo pensada como algo imediatista. Ela começa desde a Educação Primária ( as nossas Séries Iniciais do Ensino Fundamental) e estende-se a todos os níveis.
Para atingir o objetivo em relação a educação primária, o governo de Rwanda estabeleceu uma parceria com a nossa ONG, One Laptop per Child- OLPC.
A ONG, fundada por pesquisadores do MIT e apoiados nas idéias de Papert, foi quem tomou a iniciativa de desenvolver laptops de baixo custo para crianças.
“O propósito da OLPC é proporcionar às crianças de todo mundo novas oportunidades para explorar, experimentar e se expressar”. (Site da OLPC)
Dentro da idéia de alta qualidade na Educação, nossa missão não é apenas prover laptops, mas criar uma cultura de aprendizagem, engajando as crianças na sua educação e desenvolvendo a paixão pelo aprender.
Essas possibilidades motivaram o governo de Ruanda a comprometer seus escassos recursos com o projeto, como iniciativa para qualificar a educação básica.
Em novembro de 2007 aconteceu o primeiro piloto, com 100 laptops em Rwamagana, uma escola fora da capital. Em 2008 o piloto foi estendido para cerca de 17 escolas, contando com 10 mil laptops doados pela ONG. A partir dessas experiências, em 2009 o governo decidiu comprar 100 mil laptops e começou a preparação para o projeto em larga escala, fazendo a distribuição dos mesmos em 2010.
Tendo em vista o comprometimento do país, a OLPC enviou membros do seu time de aprendizagem para Ruanda para suportar as iniciativas do governo em relação a implantação do projeto.