sábado, 22 de maio de 2010

Venda de laptops para alunos de escolas privadas

Quando se inicia um projeto inovador como "um laptop por aluno" nas escolas públicas, as escolas privadas também sentem a necessidade de atualizar-se e prover os mesmos benefícios e oportunidades aos seus alunos.  No entanto, a nossa organização trabalha diretamente com governos. E estes, por sua vez, priorizam as escolas públicas que estão sob sua responsabilidade.
Em Ruanda as escolas privadas manifestaram interesse e o ministro da educação na época, considerando que esses alunos possuem melhores condições econômicas, achou que vender laptops para os alunos dessas escolas seria um boa estratégia para dar visibilidade ao projeto.  Então o governo começou a vender os laptop diretamente para os pais a um preço de mais ou menos U$200,00.
No entanto, essa ação foi realizada sem um plano de implementação bem definido e articulado com as escolas. A partir daí muitos problemas começaram a surgir:
-    Os professores foram beneficiados com uma formação inicial, mas não receberam laptops. O governo não quis doar laptops para esses professores e eles, por sua vez, argumentavam que não tinham condições financeiras para comprá-los.  As escolas também não tinham como prover laptop para seus professores;
-    Foram feitas campanhas para os pais comprarem laptops, mas muitos pais não tiveram condições de comprar;
-    Alguns pais compraram um laptop para ser compartilhados entre  3 ou 4 filhos em diferentes séries;
-    Os professores começaram a recusar-se a usar o laptop em sala de aula porque além dele não possuir a máquina, nem todos alunos possuíam;
-    Após um tempo os laptop começaram  a ser danificados pelas crianças e não havia um plano claro de manutenção;

 Além de tudo isso, quando abre-se a possibilidade de venda de laptop para pessoa física, laptops das escolas públicas começam a “desaparecer” e eventualmente "aparecer" nas mãos de crianças de escolas privadas. Ou seja, cria-se um “mercado negro” de laptops.  Para evitar esse tipo de prática sugere-se que os laptops não sejam vendidos para pessoa física. 

Dessa experiência pode-se concluir que uma Ação, por melhor que seja a intenção, sem uma estratégia de implementação e sustentabilidade, tende ao fracasso.

Recomeçando em 2009

Após 6  meses no Brasil, em março voltamos à Ruanda, mas dessa vez para ficar por tempo indeterminado!
Dada a decisão do presidente do país de comprar 100 mil laptops, a ONG resolveu enviar um time para suportar o projeto.
Quando chegamos à Ruanda nos deparamos com a expansão do projeto para outras escolas e a venda de laptops para alunos de escolas privadas. O core tem também estava formando novos membros para fazer parte do grupo de formadores. Então começamos a intervenção com os novos membros propondo projetos baseados no currículo escolar, usando Etoys e Scratch. Os antigos membros já se sentiam “formados”! Eles não viam a necessidade de continuar a formação que estávamos propondo.
O mais decepcionante  foi ver que as 3 escolas pilotos estavam abandonadas.  Havia alguma tentativa por parte de pouquíssimos professores em utilizar as máquinas.  Naquele momento ouvimos dos professores que precisavam de mais formação e que não sabiam como integrar o laptop ao currículo.
O core team definitivamente não entendeu que deveriam continuar o suporte às escolas e aos professores em sala de aula.
Um fato interessante nesse período foi deparar-se com o trabalho voluntário na sala de aula de um professor da escola Kagugu para suportar semanalmente o uso do laptop com as crianças da 3a série. O voluntário era um japonês que estava trabalhando em Ruanda  como professor da Universidade KIST. Ele por conta própria tomou conhecimento do projeto e ofereceu-se para judar.
Em seguida, em parceria conosco, esse mesmo professor convidou seus alunos da faculdade de Química e Biologia para juntar-se a ONG no trabalho voluntário em uma das escolas.

Reflexões sobre formação de formadores e professores:

-    Os “alunos-professores ou alunos-formadores” apropriam-se do que VIVENCIAM na formação e não daquilo que ouvem.
-    Nossas propostas serão MODELOS para eles pensarem suas próprias práticas.
-    Junto com a proposta (AÇÃO) é necessário uma REFLEXÃO e uma DISCUSSÃO sobre a mesma.  As pessoas tendem a repetir a forma (seguir os passos)  sem entender a essência (o porquê).
-    Adultos não são crianças: as propostas precisam ser adequadas ao seu interesse.
-    A participação em formações não garante que o professor estará seguro para utilizar laptops em sala de aula.  Para além da formação, o SUPORTE INICIAL EM SALA DE AULA faz-se necessário.
-    A formação tem que ser continuada. Após as tentativas de utilizar em sala de aula é que surgem as maiores dúvidas sobre o laptop e sobre o fazer pedagógico.