segunda-feira, 12 de julho de 2010

Estratégia para a formação de professores: um trabalho coletivo de nossa equipe

Tendo em vista que uma nova formação de 300 professores se aproximava, eu e o Juliano decidimos usar a preparação para esse evento como um momento de formação para nossos estagiários. Em seus blogs e em nossas discussões semanais nos nossos workshops, os estagiários apontavam vários problemas que estavam encontrando nas escolas no que diz respeito a formação e ao uso do laptop pelos professores: Os professores solicitavam mais formações e quando elas eram oferecidas eles não demonstravam-se comprometidos; O uso do laptop em sala de aula parecia trabalho extra; Não conseguiam entregá-lo ao currículo nacional; pouquíssimos professores estavam utilizando laptop em sala de aula; a resistência maior era por parte de professores mais antigos; escolas com melhores resultados contam com diretores mais atuantes em relação ao projeto; faltava conhecimentos básicos para a resolução de problemas simples em relação ao laptop, organização das atividades com o laptop e também cuidados com a máquina; muitos laptops permaneciam chaveados em armários e alunos não levavam para casa.

Baseado nos dados trazidos pelos estagiários, nas nossas próprias leituras e observações, iniciamos um processo de re-avaliação de nossas formações, assumindo que nosso trabalho  anterior no que diz respeito a capacitação de professores e gestores, não estava sendo muito efetivo, desde que muitos professores não estavam utilizando laptops em sala de aula.
Por isso sugerimos a criação coletiva de alternativas para o trabalho com esses novos professores que estavam recebendo laptops em suas escolas.

Essa primeira formação para o deployment de 65.000 laptops foi organizada para atender as 150 escolas distribuídas em 4 Províncias de Ruanda, além da capital Kigali City, que receberão as máquinas nos próximos meses.
Então decidimos, junto com o governo, que nessa primeira fase seria essencial fazer uma formação prévia para os diretores das escolas e um professor coordenador do projeto por escola.  Tal ação justifica-se tendo em vista que em escolas onde o diretor/a entende os princípios do projeto e têm um professor responsável, o engajamento de outros professores e a viabilização de outras ações dentro do espaço escolar, bem como, com a comunidade, tende a ser mais efetiva.

Para tanto essa formação foi pensada com alguns objetivos:
1) Destacar os princípios do projeto: Por que prover um laptop por criança, se muitas não têm o que comer? Por que saturação de uma escola? Por que as crianças precisam levar laptop para casa?  O projeto é sobre Educação, viabilizada pela tecnologia. Não é sobre tecnologia. Os professores não precisam ensinar tecnologia; eles precisam utilizá-las para melhor suas práticas pedagógicas.
2) Desenvolver nossa formação com idéias concretas sobre utilização dos laptops em sala de aula, trabalhando as ferramentas a partir de atividades curriculares.
3) Focar em alternativas para resolver possíveis problemas que serão encontrados em sala de aula e nas escola.
4) Planejar os próximos passos.

Planejando a nossa formação com idéias concretas sobre como utilizar os laptops em sala de aula.

Um dos principais pontos observados para o planejamento dessa formação foi a dificuldade de uso do laptop em sala de aula pelo professor pela desconexão com o corrente currículo.
Muitas vezes os professores conseguem utilizar o laptop, mas não em suas aulas.
Por isso, decidimos colocar-nos no lugar do professor e, para essa formação inicial, criar atividades com o laptop baseado no currículo que eles devem ensinar em sala de aula.  Selecionamos os livros Didáticos que eles utilizam em diferentes disciplinas e dividimos nosso time em equipes para criar atividades para o uso básico do laptop a partir dos tópicos do livros.
Tal atividade não foi tão fácil de ser realizada! Mas foi importante para nossos internos descentrar-se em entender a dificuldade do professor em tentar usar o laptop em seu planejamento.
Com essa proposta de formação esperamos que os professores entendem que esse projeto não é sobre TICs, mas sobre Educação! E que eles não precisam ensinar as crianças a utilizarem todas as atividades do laptop, já que esse um dos maiores medos deles, mas sim desenvolver suas propostas usando o laptop.
Também criamos coletivamente um booklet (pequeno manual) para ser distribuído aos professores para consulta de informações básicas sobre o laptop. Nesse booklet anexamos quatro atividades que julgamos interessantes para iniciarmos o uso do laptop e que, por ser baseadas nos livros didáticos, os professores podem utilizar em suas aulas. Coletivamente com nossos internos, desenvolvemos atividades com o laptop para o Ensino de Inglês, Estudos Sociais, e Matemática.
Sabemos que nosso objetivo para com os professores, enquanto organização, NÃO é a simples integração do laptop ao currículo. No entanto, dada a realidade de Ruanda, em que há um extenso currículo nacional e um sistema de exame nacional que é baseado no corrente currículo, pensamos que a melhor alternativa seria incentivar um uso do laptop em sala de aula, oportunizando que as crianças construam algo mais significativo sobre o quem vêm estudando.  Ou seja, criar alternativas para incentivar o professor a começar a utilizar laptop em sala de aula, mesmo em usos mais simples, e aos poucos, em outras formações, introduzir práticas mais inovadoras com projetos mais abertos e significativos para os alunos.

Abrindo possibilidades
Cabe salientar que os usos mais poderosos do laptop inicialmente acontecerão em atividade extra-curriculares e, por isso, uma das partes dessa capacitação foi  organizada para a orientação dos diretores das escolas no que diz respeito aos princípios da OLPC, bem como na mostra de projetos feitos por crianças usando o laptop em atividades como Camps e Clubs fora do horário escolar.
Para destacar os princípios do projeto, planejamos apresentações do coordenador da OLPC em Ruanda, Sr Nukbito, bem como, do antigo coordenador, Richard; do diretor regional do país (OLPC stuff) Dusengiyumva Samuel e também do Coordenador de Tecnologia e Aprendizagem, Juliano Bittencourt.
Nossos “Learning Development Officers”, Jimmy e Désiré,  prepararam apresentações do projeto Matsiko (investigação de curiosidades) e também do Camp sobre HIV/AIDS, Visão de Futuro e Proteção do Meio ambiente. Para essas apresentações pedimos que eles destacassem a complexidade dos projetos feitos pelas crianças no que diz respeito a criatividade, programação, lógica, etc.

Antecipando problemas com XO nas escolas
Com objetivo de preparar os diretores e o professor coordenador do projeto  de cada escola em relação a possíveis problemas que podem ser evitados e outros que podem ser resolvido por eles mesmos,  criamos duas estratégias: 1) a apresentação do diretor de uma das primeiras escolas de Ruanda que receberam laptops para um bate-papo sobre os resultados, os problemas e as soluções encontradas, bem como, os desafios que ele tem encontrado em relação ao projeto na sua escola. 2) Simulação de prática de sala de aula e de problemas com o laptop através de teatro com participação da platéia. Nossos estagiários selecionaram problemas que eles vêm encontrando nas escolas e criaram um teatro de uma sala de aula onde esse problemas aparecem e como eles podem ser solucionados. Mas a idéia é que quando os problemas aparecem, a cena pára e o animador interage com o público, discutindo soluções para os problemas ilustrados.

Próximos passos

Para discutir os próximos passos, foi planejado a apresentação do coordenador do projeto em Ruanda, representante do governo.
Mas como próximo passo, estão inclusos: a criação de campanhas de conscientização sobre o projeto dentro da escola ( para professores e alunos) e para a comunidade (pais e vizinhos da escola); a preparação das escolas para receber as máquinas;  eletrificação de escolas que ainda não possuem energia elétrica; a preparação para a formação dos professores das 150 escolas;

Clique aqui para ver o documento original para essa formação.

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